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Buda Maitreya: A Estória de Asanga – O Supremo Poder da Compaixão:
A estória da propagação do Uttaratantra começa na famosa universidade budista de Nalanda, na Índia. Um incêndio destruiu a maior parte dos ensinamentos Abhidarma e uma monja, Salwai Tsultrim, preocupada com a possibilidade destes serem perdidos, decidiu ter filhos que ajudariam a preservá-los.
Seus dois filhos foram Asanga e Vasubandhu, que se tornaram importantes transmissores dos ensinamentos budistas, principalmente o Mahayana.
A ESTÓRIA DE ASANGA
Asanga, no fundo de uma caverna, começou a meditar muito diligentemente no Buda Maitréya. Ele praticou por três anos e parecia não estar obtendo qualquer resultado. Isso o deixou muito deprimido, pois não havia alcançado nenhuma realização em sua meditação.
O POMBO PERSEVERANTE
Então, ele abandonou seu retiro e, ao sair, chamou-lhe a atenção um pombo que revoou ruidosamente do seu ninho, um buraco na face rochosa da montanha.
Asanga notou que o ninho tinha sido escavado muito suavemente pelos esforços de várias gerações de pombos. Com este exemplo de contínua perseverança, ele sentiu-se novamente inspirado e voltou a meditar.
O HOMEM COM A BARRA DE FERRO
Depois de mais três anos sem qualquer êxito, muito extenuado e frustrado, Asanga considerou que talvez estivesse enganado, que não fosse possível a ele realizar o que pretendia. Assim, desistiu novamente, resolvendo retornar à aldeia.
Enquanto descia a encosta da montanha, de repente, avistou um homem que esfregava uma barra de ferro com um pedaço de flanela de seda. Achou curiosa aquela atitude e, imediatamente, perguntou:
“O que o senhor está fazendo?”
Erguendo os olhos para o estranho que se aproximava, o homem respondeu prontamente:
“Ora, você não vě? Estou esfregando esta barra de ferro com um pedaço de seda”.
“Sim, eu sei. Mas o que pretende com isso?”, perguntou Asanga meio impaciente.
“Ora, você não vê? Estou produzindo uma fina agulha. Por favor, não me distraia…”
E o homem prosseguiu, mansamente, o seu trabalho.
Olhando para aquele incrível exemplo de determinação, e tendo ouvido aquela contundente resposta, Asanga sentiu-se envergonhado e pensou:
“Puxa! Esse homem tão simples possui uma persistência mais forte que o ferro, e eu desisti de visualizar o Buda Maitréya com apenas seis anos de prática…”
Muito arrependido, Asanga foi para o seu eremitério prosseguir na sua meditação.
O HOMEM E O ROCHEDO
Contudo, tendo completado ao todo nove anos de meditação, ele ainda não havia tido nenhum sinal de Maitréya. Simplesmente nada acontecia e, mais uma vez deprimido, Asanga desistiu.
Abandonou a caverna e ia descendo a montanha quando, de repente, viu um outro homem que molhava uma pena de pavão em um jarro de água e, lentamente, a esfregava na colossal parede formada pelo rochedo.
Intrigado com o que o homem pretendia com aquilo, perguntou:
“O que o senhor está fazendo?”
O homem, interrompendo um instante sua atividade, disse sem hesitar:
“Ora, você não vê? Estou removendo este rochedo, pois faz muita sombra sobre a minha choupana, que fica escura, fria e úmida em excesso…”.
Olhando aquilo estupefato, Asanga refletiu sobre o quanto aquele homem tinha mais fibra do que ele e, totalmente envergonhado, mais uma vez, dirigiu-se à caverna para prosseguir em sua busca espiritual.
O CACHORRO DOENTE
Todavia, após mais três anos meditando, absolutamente nada mudou. O Buda Vindouro não surgia de modo algum para Asanga que, desanimado e triste, abandonou o seu posto.
Ele descia cabisbaixo a montanha, seguindo por uma trilha deserta, quando avistou um cão doente, caído à beira do caminho.
O animal estava desfalecendo, pois tinha seu corpo recoberto de grandes chagas abertas, sangrentas, onde vermes se retorciam e se deliciavam na carne já um tanto apodrecida.
Asanga ficou ali, muito consternado, sem saber o que fazer para ajudar… Se limpasse as feridas com algum remédio, chá ou bálsamo, mataria os vermes. Se não fizesse nada, o cão morreria.
Intensamente tocado por aquela situação de enorme sofrimento, de súbito, uma idéia brilhou em sua mente. Se ele removesse cuidadosamente os vermes com a língua, lambendo as feridas e os vermes com todo zelo e cuidado, poderia dar uma chance tanto aos vermes quanto ao cão agonizante.
Então, considerando ser a única coisa a fazer, Asanga pôs-se de joelhos, bem junto ao cão, e enfiou seu rosto no corpo desvalido do animal que, mesmo doente, rosnava e tentava mordê-lo.
O BUDA MAITRÉYA
Contudo, naquele exato instante, como por mágica, uma nuvem de fumaça ergueu-se no ar com um estrondo, assustando Asanga. Diante dos seus olhos, o cão foi se metamorfoseando lentamente e transformando-se no Buda Maitréya em pessoa!
Num misto de espanto, consternação e irritação, Asanga gritou e reclamou:
“Maitréya! Você?! Por que não me apareceu antes? Pratiquei por doze anos em vão! E agora, sem mais nem menos, você aparece do nada?!…”
Ao que Buda Maitréya, sorrindo muito do seu discípulo, cheio de mansidão e doçura em sua voz, falou:
“Ora, Asanga, você não vê? Na verdade, eu lhe apareci muitas vezes, mas você não era capaz de me enxergar, ainda que pudesse me ver perfeitamente…”
Muito confuso, Asanga continuava sem entender:
“Como assim, mestre?”
E Maitreya completou: “Meu bom discípulo, era eu o pombo que revoou quando você deixou a caverna. Era eu o homem com a flanela e a barra de ferro, assim como também era eu o homem com a pena de pavão e o jarro…”
O SUPREMO PODER DA COMPAIXÃO
Maitréya riu-se da franzida de rosto que Asanga teve ao ouvir tal revelação e prosseguiu dizendo:
“Você não era capaz de me reconhecer, pois, apesar de meditar e concentrar-se muito habilmente, ainda não havia realizado o supremo poder da compaixão em seu coração, e isso bloqueava a sua visão, meu jovem… Então, quando finalmente percebi que você havia praticado suficientemente, manifestei-me mais uma vez, mas agora como o cão doente, uma forma de atestar a presença certa e estável da verdadeira e pura compaixão, meu caro discípulo! Agora você vê? Você compreende? Sem que aflorasse a nítida, pura e clara compaixão em seu nobre coração, você seria incapaz de me ver e de compreender o meu ensinamento. Seria inútil transmiti-lo a você.”
Ao ouvir aquelas tão sábias palavras do seu mestre, Asanga juntou suas mãos e reverenciou a majestosa e profunda sabedoria do Buda e perguntou:
“Mas, então, somente eu posso perceber sua presença? Só eu posso vê-lo?”
“Sim, Asanga, devido ao poder da sua compaixão. Leve-me até a aldeia e poderá confirmar isso facilmente.”
Então, Asanga carregou o Buda Maitréya nos ombros, pela aldeia, sem que ninguém o percebesse, a não ser uma mulher, conhecida por sua bondade amorosa, que perguntou por que razão ele levava um cão ferido sobre seus ombros.
TUSHITA: A TERRA DE BUDA
Em seguida, Maitréya e Asanga foram até a Terra de Buda, chamada de Tushita, onde Asanga recebeu de seu mestre os ensinamentos do segundo giro, em especial, os do Prajnaparamita, de onde compôs o Ornamento da Clara Realização.
Maitréya também passou a Asanga muitos dos ensinamentos do terceiro giro, sendo três pertinentes à verdade relativa, quais sejam: O Ornamento dos Sutras Mahayana; Distinguindo Darma de Darmata; e Distinguindo o Meio dos Extremos.
Os ensinamentos pertinentes ao significado absoluto da realidade foram: O Ornamento da Clara Realização e o Uttaratantra, sendo todos transmitidos, então, aos seres humanos.
Do livro “Natureza de Buda – O Uttaratantra de Buda Maitréya” de Khenchen Thrangu Rimpochê.
