Neste artigo, falaremos um pouco sobre corpo, mente e espírito, mais precisamente sobre os limites (a impossibilidade) da mente ao acesso à Consciência Espiritual que reside em cada um de nós.
UMA GOTA DO ENXERGAR DA CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Conta uma história que um homem, certa vez, decidiu conhecer o mundo. Ele então se lançou em uma longa jornada pelos quatro cantos da Terra.
Em suas caminhadas teve contato com uma intrigante civilização subterrânea isolada e desconhecida de todos. A entrada para a cidade oculta encontrava-se em uma pequena gruta, escondida dos olhos dos exploradores.
Quando ele adentrou aquela inusitada civilização, surpreendeu-se com uma extraordinária constatação: todos os habitantes sofriam de uma estranha deficiência: nenhum dos nativos possuía o sentido da visão.
— Nenhum de vocês enxerga? — perguntou o viajante a uma moça que passava.
— O que é enxergar? — perguntou a moça.
— É ver as formas, as cores.
— O que é ver? O que são cores? – retrucou ela.
O viajante, frustrado por não poder mostrar à moça a indescritível beleza revelada através da percepção visual, parou por um instante e pôs-se a refletir. Ele então retirou de seu bornal um fruto colhido na floresta externa e entregou à moça.
— Experimente.
A moça tateou o fruto e ficou maravilhada com aquela bela forma de fresca vitalidade. Vislumbrou seu odor e adentrou em um êxtase olfativo. Quando degustou o fruto, experimentou tão doce sensação que se sentiu elevada interiormente.
— Meu Deus! — exclamou ela. — Isto é maravilhoso. Nunca experimentei algo tão sublime. O que é isto?
— Isso?! — respondeu ele. — É uma “gota do enxergar”.
O QUE É SUBLIME TRANSCENDE A MENTE
Existe algo de sublime para além do corpo e da mente, onde ela não alcança, mas o espírito, sim. A mente, apenas com suas próprias ferramentas, não pode mostrar o que lá existe.
Com um sentido essencial a menos, não podemos descrever ou obter o que um quinto sentido poderia trazer. Com a mente apenas, não poderíamos descrever ou obter a sabedoria que está para além dessa mente.
O REINO DOS CÉUS É “DESCRITO” POR PARÁBOLAS
O viajante disse para a moça cega que o dom da visão é como o mais sublime dos sabores, é como o mais esplêndido dos odores, é como o mais divino som. Mas não é nenhum destes.
Da mesma forma, o que é para além da mente é como o que de mais sublime pudermos descrever com esta mente. E mesmo assim não será nada do que a mente possa construir ou expor.
AS INFINITAS NULIDADES DA ILUSÃO DA MENTE
A mente é um sistema aparentemente lacrado e tudo o que se mistura dentro dela resulta somente em uma coisa: a própria mente.
Dentro dela tudo é nulo, tudo possui valor zero. Podemos misturar infinitos conteúdos mentais, somá-los, multiplicá-los ou inventar novas formas de operações dentro desses aglomerados de nulidades.
Tudo o que obteremos serão mais e mais zeros, e mais “nadas”, e mais nulos, em direção ao infinito da coisa alguma, da qual temos dificuldades de nos afastar da sua sedutora atração.
Enquanto mente, corpo e espírito forem separados, assim permanecerá.
A ACEITAÇÃO COLETIVA E INDIVIDUAL DA FALSIDADE MENTAL
As pessoas aceitam o mundo como lhes parece e aparece. Há uma concordância mútua e também solitária, uma aceitação coletiva e também individual, por que assim a mente nos interpenetra.
Essa concordância e essa coletividade são também misturas nulas dentro da mente. São os zeros se somando e se multiplicando, porque em todos os pontos da mente estará apenas uma coisa: a própria mente.
As pessoas aceitam o que lhes é apresentado porque são atraídas a crerem que não existe nada mais além disso, além do que os sentidos captam, do que as emoções sugerem ou do que o intelecto deduz.
A TRAÇÃO MENTAL
A mente nos cerca e nos traciona sempre para um pequeno e limitado mundo de ilusões sem substância. Para onde quer que olhemos, será exatamente para onde ela quer que olhemos.
Essa condição é tão patente, tão evidente, que não podemos percebê-la, pois nossa visão é constituída de nulidades e o que nossos olhos vêem também são feitos de vazios.
Não são possíveis comparações e por isso não são possíveis distinções. Como comparar a mente com a própria mente? Como distinguir a mente da própria mente? Como a serpente pode devorar a si mesma?
A mente impregna tudo e atua em todos os pontos e momentos de nossos dias, em todos os individualizados.
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